domingo, 15 de setembro de 2013

ORIENTE MÉDIO

Há quatro décadas que o mundo vivencia um litígio entre Israel e Palestina. Diversos teóricos já tentaram explicar a essência desse conflito e possíveis resoluções, porém, essas teorias não englobam todos os elementos que se referem ao conflito Israel-Palestina. Questões maiores estão envolvidas nesse dilema, que não são devidamente explicados por teóricos positivistas, portanto, recorre-se aos pós-positivistas, neste caso, os construtivistas. A questão da sobrevivência dos Estados não é necessariamente o único ponto chave para a resolução do problema de Gaza, pois o contexto aqui presente é de um conflito entre um Estado e um povo que está sendo exterminado de maneira desumana. Um conflito armado onde os combatentes não estão em nível de igualdade, tanto juridicamente como militarmente, é um atentado à paz e aos direitos. Contudo, o que mais preocupa é o fato de o povo palestino não possuir um Estado e, portanto, não possuir os direitos oriundos desta classificação. O povo palestino não existe no cenário internacional, segundo a teoria realista, sendo esta uma das principais vertentes teóricas considerada pelos Estados ao fazerem suas estratégias de ação. Com isso os palestinos estão sozinhos nesta luta, apesar de milhares de vozes ao redor do mundo dizerem o contrário. Wendt através da teoria constitutiva afirma que identidades dizem respeito a quem os atores são e constituem a base para os interesses, visto que não se pode saber o que se deseja (interesse) sem que o ator saiba quem ele é. Dessa maneira, uma das principais questões a serem respondidas relaciona-se com o fato de não se ter a certeza de que os Estados realmente estão representando as pessoas que o legitimaram, pois estes ignoram as vozes do povo e continuam com suas ações ou não ações. Isso é demonstrado a partir da apatia quanto às ações desses Estados, já que quase nada foi feito por eles para mudar a condição dos palestinos. Os direitos humanos estão sendo negligenciados de uma forma que não ocorreria se o caso palestino estivesse situado no ocidente, com isso percebe-se que a questão de identidade é muito importante, e que os Estados estão interagindo e se posicionando ou de forma hobbesiana, quando se relacionam como inimigos ou lockeana relacionando-se como rivais, quando o necessário seria a kantiana na qual se reconhecem e respeitam-se. Nota-se que os Estados não se envolvem cooperando para o fim do conflito por ser desvantajoso ir contra a política externa dos Estados Unidos, principal aliado político-econômico de Israel. Dessa forma, os países não se manifestam nem se posicionam quanto ao não respeito dos Direitos Humanos nesse conflito, principalmente por parte de Israel, que dentre os dois agentes em conflito, se encontra em melhor posição para ataque e destruição, principalmente das milhares de vítimas inocentes. Além disso, a impunidade dessas questões humanitárias só pode ser compreendida a partir da interligação com países externos ao conflito, os quais atuam de forma direta ou indireta no apoio às ações tomadas por Israel. De tal modo, a margem de ação de organizações internacionais, como a ONU, tem seu papel diminuído de acordo com a postura tomada por países como os Estados Unidos nos temas relacionados a esta disputa. A efetividade desses organismos internacionais depende do posicionamento de países com interesses estritamente relacionados ao melhor resultado para Israel. Pode-se, portanto, verificar o quão vulnerável a essa atuação de países externos e seus interesses este conflito está. Os Israelenses possuem um amplo apoio internacional, em especial, dos Estados Unidos da América, e, deste modo, somente uma pressão internacional poderá fazer com que Israel ceda na sua posição contra a criação do Estado Palestino. Sem que, em contrapartida, seja exigido do Estado Palestino por Israel, sanções como as que o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu recentemente pronunciou como a desmilitarização. Por isso que na criação de um Estado já restringido de seu desenvolvimento pleno, a desconfiança entre os então Estados Palestino e Israelense iria moldar a identidade entre eles de forma não amistosa e as expectativas de ação entre as partes será conflituosa. Os Estados Unidos deveriam mais veementemente contemplar de fato a real situação desse conflito, e não somente considerar a forte dependência econômica mantida com Israel. Bem como os demais Estados deveriam assumir uma postura contra a atuação israelense na construção não somente do Estado Palestino, mas também que a relação entre esses agentes conflituosos se tornem verdadeiramente pacíficos. Entende-se que atualmente uma das principiais dificuldades em se manifestar a favor dos palestinos seria o fato de se enquadrar em uma situação de indisposição com os Estados Unidos. Essa razão é forte o suficiente para fazer com que poucos países realmente opinem em relação a este conflito. Porém, a partir do momento que os países pararem de auxiliar nas questões econômicas e principalmente militares dessa guerra, o que favorece Israel; pararem de considerar este como sendo fruto de uma vitimização histórica de um povo e passarem a dividir o conhecimento e a idéia de que Israel não é apenas essa vítima, mas também parte de uma construção positivista de manutenção de um Estado, é que este conflito poderá finalmente dar início ao seu fim. Destarte, deixa-se de considerar a criação do Estado palestino como somente uma ameaça e se passa a trabalhar para que essa construção ocorra de maneira a formatar a identidade desses Estados a fim de tornar suas relações o mais respeitosa possível. Não permitir que a estruturação primordial do Estado Israelense, baseada na visão ocidental, tanto política quanto religiosa, continue a se apresentar como uma ameaça aos países do oriente. Portanto, não só questões políticas, econômicas e geográficas envolvem o entendimento entre as partes, mas também a identificação cultural, a qual influencia nas relações internacionais dos atores. Dessa forma, analisando que a população israelense tem uma assimilação maior com o ocidente, educação formal nos moldes cartesiano, além de idioma, e religião diferenciados dos palestinos, os quais se aproximam da educação religiosa mulçumana, e têm como idioma oficial o árabe, vemos que a diplomacia entre estes dois países se torna muito mais onerosa. Sendo assim, as questões territoriais e de segurança se equiparam ao conhecimento geral do respeito e compreensão no âmbito cultural. O Estado de Israel possui uma população e um sistema político atrelado ao território que ocupa, retomando o conceito mais jurídico do termo Estado. O fato de ter sido construído a partir de apenas uma perspectiva – a do Estado de Israel –, mesmo que por meio da base em argumentos históricos de ocupação territorial, mostrou a dificuldade em se atingir consenso a respeito da legitimidade da autoridade e da jurisdição soberana sobre o território. A razão para a situação inicial de contraposição dialética está no desacordo entre israelenses e palestinos. Essa circunstância acabou por suscitar o surgimento de embates militares entre ambos os grupos. A demarcação arbitrária de um território já ocupado por diferentes componentes sociais acentuou ainda mais essa contraposição e marcou toda uma história com episódios de guerra e frustradas tentativas de paz. No entanto, as questões israelenses versus palestinos está distante de contemplar apenas a ausência de um território e de um Estado da Palestina. Diante de análises das distintas percepções dos atores, o conflito tem ocorrido devido a uma construção de percepção de um conflito, efetuado por ambos, e possibilitado pelo entendimento mútuo de conduta hostil. Considerando diversas variáveis que contribuem para essa construção – idéias, identidades, interesses, religião, normas, agentes –, Israel e Palestina não reconhecem um ao outro, não há o diálogo, não há tolerância do diferente, bem como outros fatores exógenos ao cultural – políticos, econômicos – mas que contribuíram para reciprocamente impossibilitar a construção de um Estado Palestino e o fim das disputas. Devido à discussão apresentada, poder-se-ia defender que a criação de um Estado Palestina não seria facilitada por Israel, uma vez que não só haveria um desapego ao território, mas também o reconhecimento recíproco de conflito deveria ser desconstruído a fim de dar lugar a uma nova construção: uma tolerância ao diferente reconhecendo seus direitos e interpretando suas ações como pacíficas e legítimas. Entretanto, nos propomos a tratar do fato hipotético de criação do Estado Palestino sem ocorrer essa desconstrução da estrutura compartilhada por ambos os agentes em questão, segundo a teoria construtivista das Relações Internacionais. Diante do fato de o conflito ter sido deflagrado não contra a Palestina, ou parte dela, como unidade territorial (pela dificuldade de se dizer “Estado”), tampouco contra o governo, uma vez que há uma duplicidade na administração: a Faixa de Gaza encontra-se sob domínio do grupo Hamas e a Cisjordânia, do Fatah, nota-se um conflito assimétrico entre o Estado de Israel e os indivíduos palestinos, sendo eles civis ou não. Daí advém o fato de o indivíduo estar no centro da segurança, já que os palestinos que “ameaçam” o Estado de Israel. A criação do Estado Palestino, portanto, não cessaria o conflito tampouco garantiria sobrevivência aos palestinos. As adversidades provenientes das incompatíveis ideologias e enraizamento cultural compõem o cerne da questão, deslegitimando a segurança do povo palestino dotado de um Estado. Uma aceitação de percepções diversificadas, a tolerância ao diferente, a possibilidade de existência de uma visão mais compreensiva do outro, aliado ao consentimento de divisão do território, possibilitaria, talvez, que o Estado Palestino tivesse a sobrevivência de seu povo assegurada, pois uma nova estrutura de reconhecimento pacífico e mútuo entre Israel e Palestina seria construída.

Nenhum comentário:

Postar um comentário